sábado, 10 de outubro de 2009

Oi, Seu José [um hiper-clichê, mas eu gosto e tem continuação]

O Seu José, 52 anos, casado, caminhava em direção ao ponto de ônibus. Estava indo para a casa do seu querido amigo Taborda. Caminhava tranqüilamente, com seu cigarro acesso na mão esquerda. Na direita, seu velho radinho de pilha (eita rádio velho de guerra!), sintonizado na “Rádio Liberdade, diferente das outras, igual a você!”, noticiário da manhã. Parou no ponto, jogou o finalzinho, a pontinha minúscula, do cigarro no chão e pôs-se a esperar o ônibus.

Apareceu então uma moça linda, loira, olhos verdes, rosto fino, corpo esbelto, aparentando ser muitos anos mais nova do que José. Aproximou-se dele e disse: “Aqui, o 9710 passa neste ponto?”. Zé não entendeu, desligou o rádio e pediu para ela repetir. Ela repetiu e ele, sabendo que aquele ônibus passava por ali, inventou de imediato:

- Não dona, ele não passa neste ponto, mas para onde a jovem tem de ir?
- Que pena! Preciso ir à casa de uma amiga minha. É só a algumas quadras daqui, mas tenho que ir depressa. Estou atrasada e tenho coisas para fazer depois.
- É lá para os lados do Bairro do Salgado? – arriscou Zé.
- É sim!
- Vamos a pé, tenho que ir para aqueles lados também. Aí você não vai sozinha. Vamos a passos largos e rápidos! O que acha?
- É muita gentileza, mas o senhor...
- Me chame de você. E não há problema para mim em andar rápido – o homem calculou que a moça deveria ter pensado que ele não teria muita força nas pernas naquela idade, para andar rápido.
- Mas o senhor... hum... você não estava esperando o ônibus?
- Oh, não. – o ônibus de Zé acabara de chegar – estava aqui só pensando na vida, à toa. Vamos?

A moça não tinha como recusar e foram andando.

- Nossa como o senhor... – caham! – você é gentil! Como é seu nome?
- Sérgio – mentiu Zé rápida e maquinalmente – e o seu?
- Júlia... para onde o s... você está indo mesmo?
- Para a casa de um amigo – desta vez Zé falava a verdade, mas não fazia bem o caminho certo – jogar uma conversa fora, um pouco de baralho, cervejinha... sabe como é, né?
- Hum, adoro baralho e cerveja. O problema é que isso combina demais com o cigarro, sempre tem aquele pessoal fumando...
- Também odeio cigarro! Não suporto!
- É mesmo? Que bom! Faz mal demais para a saúde.
- Bom, aí de música de fundo para o jogo, a gente põe numa rádio...
- Ah, tem que ser pagode! Pode até ser uma MPB... o que não pode ser é música antiga! Não suporto Vicente Celestino, esses cantores antiqüados... aquela rádio... Liberdade, não é? Não agüento! “Diferente das outras, igual a você”, é chata demais.
- Também detesto essa rádio! Parece que você está nos anos 50 ao ouvi-la... não dá! Concordamos em bastante coisa, não?
- Até que sim... Você não tem quarenta anos, tem?
- Que é isso, moça? Já passei dos 50...
- Mas não parece ter nem 40! – como Júlia foi generosa! Seu Zé parecia ter mais do que tinha, na verdade.

Júlia olhou rapidamente, com o canto do olho, para a mão do Zé, viu um anel que ela reconheceu ser de ouro maciço, no dedo do meio, com uma bonita pedra. Nada de aliança... arriscou:

- Você é casado?
- Não... Mas a moça deve ser...
- Eu? Imagina? Não sou... talvez eu seja feia demais para isso.
- O que é isso? Uma moça linda dessas...
- Imagina! O senh... você é que está bem conservado!

Nesse momento passaram na frente de uma loja de jóias. O Zé falou para ela esperar do lado de fora e voltou com um colar de ouro, com um pingente de diamante.

- O que isso, Seu Sérgio? Não posso aceitar, por favor...
- Comprei para você, é presente, não faça desfeita...
- Muito obrigada! – e deu um beijo e um abraço no Zé.

Andaram mais um pouco, o Zé tentando falar de pagode, que gostava também de um samba antigo. A moça concordou parcialmente. Enfim, ela anunciou:

- Aqui é a casa da minha amiga, fico por aqui.
- Mas...
- Desculpe, Seu Sérgio.
- Pode tirar esse “Seu”.
- Desculpe, Sérgio, mas tenho mesmo que ir, muito obrigada pela companhia e pelo colar, foi muita gentileza sua.
- Não foi nada – e Júlia deu mais um beijo e um abraço no Zé – espero vê-la mais vezes.
- Quem sabe? – e com uma piscadela entrou na casa da amiga, que ficava com o portão aberto e foi bater na porta.

Zé parou por um segundo, até que Júlia entrasse na casa. Sentia-se bem feliz. Sentia também algo na orelha e quando a tateou puxou um pequeno papel: Me liga, 35657662.

2 comentários:

  1. Realmente, clichê, hahahaha.
    Mas tem continuação mesmo? cadê?

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  2. Paulistaa!! Eu disse que vinha e vim!! Seu Zé.. sabe que eu nao pensei em nenhum texto desse tipo quando você pediu para eu ler? Sei lá também no que pensei.. Mas vamos lá: eu gostei! Confesso que eu viajei um pouquinho quando li.. pensei em uns significados, em algumas formas de entender certas partes.. éé .. eu as vezes faço isso! hahah Mas cara, gostei mesmo! Cadê a continuação hein??
    Parabéns de novo pelo blog!!

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